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terça-feira, 5 de julho de 2022

 

Passei a vida na espertalhice

De captar em um Rosa

Ou na beira de Clarice

Um sentido metafísico

Que desse ao corpo o que existisse

 

Um livro que lido inteiro

Valesse por uma missa

Alçava a mim por preguiça

À mira dos altos abismos

A ver que dava sentido

à vida que se levava

Se no enlevo do corpo

Algo sublevasse

— Nos livros, na música, arte —

Às transparências do nada.

sábado, 7 de maio de 2022

 Passei à frente em me enganar

Que o jogo da memória refazendo

Edifícios, descalabros, teorias,

passaportes, mudanças climáticas e o dia teu

fosse algo diferente de olhar para a neblina

e imaginar o que embaixo há

 

Uma memória sob a forma de espanador

Uma cuíca rascando o ar no inverno

Qualquer coisa sendo outra qual

(fosse a primeira totalmente divergente)

Ainda assim a novidade não penetra na matéria.

 

Toda a alma em cada coisa

que fosse seu campo e glória

— Qual presente na caverna de Platão —

Nos faz imaginar que sob a neblina

Reside certa esperança.

 

Mas tal como a porta que abre

E mostra um jardim em flor

Um dia que seja anúncio

Ou uma emenda com amor

A água em suspenso avisa

Que a sede de avanço acabou. 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

O observatório

A lua aponta para um trampolim

Montenegro no espaço

fatia branca 

esfera brilhante 

e a lua longe como estivesse perto

engana


As estrelas para lá de depois 

e quase nunca as nebulosas

memória de tanto tempo

passado no lugar comum de um esteio

desviado de virtudes

posto o sol ainda longe

estando perto

assombra


Tudo longe no esteio de um panorama céu

filme de um passado brilhante

Distancias inimagináveis

Rouxinóis de outras terras

quadro negro de escrita indecifrável 

que o céu e seu passado

expiam

terça-feira, 12 de abril de 2022

 Você já usou um chapéu de feltro

Que bloqueia as sinapses solares de outros tempos?

Você já usou chapéu de feltro?


Chapéu lanceiro no acorde que denuncia cada dia como monte

Educação de tirar o chapéu quase nunca

Diz que não merece

Chapéu de feltro e caspa


E nada chega para dizer das novidades

E tudo fica escondido na calvície e desespero

E os erros de cálculo na aba que leva culpa e mexericos

Denunciam uma marca de pressão na pele vermelha em arco sobre a cabeça

 Quanta saudade de coisa nenhuma cabe em um coração romântico?


CIRANDA

 O pixel é um quadradinho de nada

que sempre pode ser menor

que o fractal de outro pixel

que forma este e aquele outro

adiante na imagem. 

Dardo

 A seta molda o alvo no acerto e erro

A seta molda o alvo

Na repetição do tiro lance arco

A seta mete medo


E vence o vencedor que percebe

O melhor alvo no ponto exato

(Nem mosca nem rebeldia)

O alvo e a seta são a dupla que não existe

Na parábola das vontades antes mesmo do acerto